sexta-feira, 7 de novembro de 2014

SAN GABRIEL

Uma celebração escrita por Camilo Peçanha poeta português

SAN GABRIEL
(No quarto centenário do
descobrimento da Índia)

I
Inútil! Calmaria. Já colheram
As velas. As bandeiras sossegaram
Que tão altas nos topes tremularam,
-- Gaivotas que a voar desfaleceram.

Pararam de remar! Emudeceram!
(Velhos ritmos que as ondas embalaram).
Que cilada que os ventos nos armaram!
A que foi que tão longe nos trouxeram?


San Gabriel, arcanjo tutelar,
Vem outra vez abençoar o mar.
Vem nos guiar sobre a planície azul.

Vem nos levar à conquista final
Da luz, do Bem, doce clarão irreal.
Olhai! Parece o Cruzeiro do Sul!

  II
Vem conduzir as naus, as caravelas,
Outra vez, pela noite, na ardentia,
Avivada das quilhas. Dir se ia
Irmos arando em um montão de estrelas.

Outra vez vamos! Côncavas as velas,
Cuja brancura, rútila de dia,
O luar dulcifica. Feeria
Do luar, não mais deixes de envolvê-las!

San Gabriel, vem-nos guiar à nebulosa
Que do horizonte vapora, luminosa
E a noite lactescendo, onde, quietas,

Fulgem as velhas almas namoradas...
-- Almas tristes, severas, resignadas,
De guerreiros, de santos, de poetas.

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